segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Entre quatro paredes tudo é mais fácil

Quando estava na adolescência participei do Festival do Movimento de Líderes Paroquiais (Femolipa), promovido pela Curso de Liderança Juvenil (CLJ) da Paróquia São João Batista de Montenegro. Uma das categorias da competição era o desafio, onde os participantes recebiam determinadas palavras e precisavam compor uma música naquele mesmo dia. Pois bem, quando me aventurava como compositora, fiz a seguinte letra. 

“É fácil ser cristão entre quatro paredes. Difícil é manter a palavra diante do mundo que vive do mal”. Mais adiante dizia: “Testemunho , coerência, serviço e doação. São palavras-chave para o cristão, militante em missão”. Nossa! Parece que foi ontem, mas já se passaram anos. Mal sabia eu que iria realmente sentir na pele a dificuldade de ser cristão fora das quatro paredes que constroem o prédio da igreja. 


E para quem pensa que é fácil, seguem algumas reflexões. Quando algum colega de trabalho o incomoda, você faz o quê? Ao usar o banheiro público, age como se estivesse no banheiro da sua casa? Se recebeu troco a mais, devolve? Cumprimenta o motorista do ônibus e diz adeus ao cobrador? É gentil com idosos na fila gigante do hipermercado ou do banco? Ensina bons modos às crianças e faz seus filhos juntarem os brinquedos do chão antes de dormir? Paga os impostos em dia, mesmo não concordando com os valores cobrados?

Diz obrigada à empregada doméstica e facilita o trabalho de recolhimento do lixo realizado pelo gari? Não desperdiça comida no restaurante? Guarda o lixo no bolso para jogar no lugar certo minutos mais tarde? Espera o motorista da frente arrancar sem ficar apertando a buzina? Ao sair de bicicleta, sempre anda pela rua ou sobe a calçada? Quando está caminhando, espera o sinal fechar para então sair caminhando? Doa para quem precisa roupas guardadas que nunca são usadas?Deus é só mais um ou faz parte da sua família?

Jesus, a seu modo e respeitando a sua época, fazia tudo isso. Realmente, ficar só entre quatro paredes é mais fácil.

Foto: reprodução

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Os velocistas da Eucaristia

A pressa é um dos males que aflige a humanidade. Tempo sobrando é algo tão raro quanto encontrar uma nota de cem no meio da rua. E por incrível que pareça até o criador do tempo tem sofrido com essa praga da vida moderna. A missa, maior festa cristã, é dividida em dois momentos: celebração da palavra e a celebração eucarística. Uma hora é um tempo razoável, suportável e suficiente para participar e celebrar desse sacramento com qualidade. No entanto, 60 minutos parece para alguns uma eternidade. E a ansiedade de chegar logo ao fim aflige não somente aos leigos, mas também aos sacerdotes. 

É comum encontrar padres que se fartam com o momento da homilia. Utilizam o espaço do popular sermão para falar da festa do padroeiro, dos problemas da administração do cemitério e de como a igreja tem planejado a ampliação do ginásio de esportes. Depois de dar recados por 15 minutos, utilizam outros 5 minutos para fazer uma reflexão sobre a Palavra. 

Em seguida iniciam os ritos da celebração da Eucaristia e o momento, que era para ser belo e renovador, torna-se uma corrida contra o tempo. A oração eucarística é rezada rapidamente como se fosse um jogo de quem consegue dizer mais palavras em menos tempo. No momento da consagração, Jesus consagrado no pão mal é mostrado para o povo, mesmo ritual realizado com o cálice. E assim segue, até o momento do Cordeiro de Deus. Todo o tempo que foi gasto com aquilo que não faz parte da missa a partir de agora é compensado. E como há velocistas da Eucaristia. 

E o festival da pressa continua com os leigos que, após comungar, já correm para os fundos da igreja e, quando o sacerdote vira as costas, saem do templo sem levar a bênção do Senhor. Isso sem falar nos comentaristas que insistem em não deixar a comunidade em silêncio e puxam inúmeras orações segundos depois de comungar. Enfim, após o sermão é hora de acelerar os ponteiros e correr atrás do tempo perdido...

No início do mês lembramos o dia de São João Maria Vianey, padroeiro dos sacerdotes. Quantas vezes o Cura D'Ars pedia para que fizessem hóstias mais grossas para ele ficasse por mais tempo na presença de Jesus. E nós, escravos da pressa, nem nós damos o tempo necessário para celebrar com qualidade o sacramento que celebra o amor do Senhor pelo mundo. Tempo é uma questão de preferência, já diz a sabedoria do povo.

Fotos: reprodução

Quando é hora de ser feliz?

Não é de hoje que escuto o provérbio “a felicidade não é uma estação onde chegamos, mas o modo de viajar”. Ando de ônibus praticamente todos os dias e sei que uma viagem é diferente da outra. Algumas vou em pé, outras consigo lugar para sentar, em algumas fico me sentido como uma sardinha dentro da lata e em poucas consigo ficar confortável. Claro que a forma como irei me acomodar dentro do coletivo não depende só de mim, mas o estado de espírito com que vou encarar essa situação, sim.

O vocacionado à infelicidade pensa: “Lá vou eu, pobre e sem dinheiro pra ter um carro, andar de ônibus de novo.” “Por que essa gente não vai a pé ao invés de se amontar aqui dentro?” “Só falta essa lata velha quebrar e eu chegar atrasado de novo”.

O homem de bom humor, diverte-se: “Lá vou eu, mais uma dia para o trabalho, graças a Deus”. “Esse ônibus é igual a coração de mãe, sempre cabe mais um”. “O ônibus velho é igual panela velha, quanto mais velho, mais aguenta o tranco”.

Depois da brincadeira, a pergunta que faço é: como estamos encarando a nossa vida? Só enxergamos a mancha preta na parede branca ou conseguimos visualizar a parede branca e ignorar a mancha de sujeira? Parece ser irresistível não enxergar o defeito nosso e do outro. Soa como impossível aceitar um elogio sem arrumar desculpas para justificar nossa qualidade. Onde foi parar o bom humor e a história de que entra em um ouvido e sai no outro?

A impressão que tenho é que a sociedade é expert em criar motivos para dizer não à felicidade. Por conta disso, as coisas simples da vida, os momentos bonitos do dia a dia e até as situações que nos deixam mais contentes, não são encarados como chances de aprender a ser feliz. Não espere pelo impossível e o inesperado. É com apenas um raio de sol que o dia começa a amanhecer.

Imagem: reprodução

sexta-feira, 18 de março de 2011

Qual é o tamanho do amor de Deus?

Dimensionar o tamanho do amor de Deus para com seus filhos é uma tarefa impossível. Por mais que se queira, jamais conseguerimos dizer o quanto mede o infinito. Compreender o mistério desse amor também não nos cabe, na qualidade de filhos precisamos apenas aceitá-lo. No entanto, o Evangelho nos dá pistas de como é e até onde pode chegar o amor do Pai. Em São Mateus, Jesus nos diz: "Quem de vós dá ao filho uma pedra, quando ele pede um pão? Ou lhe dá uma cobra, quando ele pede um peixe? Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai que está nos céus dará coisas boas aos que lhe pedirem!" (Mt 7, 9-11)

Ontem os telejornais foram um verdadeiro festival de noíticas ruins, um reflexo do período conturbado porque passa o mundo. Mas em meio a tanta tragedia, o amor de um pai me comoveu. A televisão divulgou no dia 17 de março novas imagens do tsunami que atingiu o Japão. Nesta gravação, um pai, com dois filhos pequenos, sobe em carros empilhados para tentar escapar da força das águas. O homem ficou por mais de três horas ilhado, com os dois filhos no colo. As crianças aparentavam ter 2 e 5 anos.


Meu filho tem 4 anos e pesa quase 20 quilos. Consigo segurá-lo em meu colo por cinco minutos. Um tempo superior a isso representa dores nas costas, braços e muito cansaço. Imaginem como estava o corpo desse pai? Além do medo de ser levado pelas águas e presenciar a possível morte de seus filhos, ainda teve que suportar o cansaço físico e mental para salvar a vida de seus primogênitos. Como é possível isso? Somente através do amor.

Se esse pai conseguiu ter tanto apreço pela vida de seus filhos, o que Deus não poderá fazer pela nossa vida? Em Isaías está escrito "eis que tenho o teu nome escrito em minhas mãos". Deus é capaz de realizar maravilhas em nossa vida. Basta deixarmos que seu amor nos transforme.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Viver um dia de cada vez

O passado já se foi e o futuro a Deus pertence. Portanto, o que nos resta é o agora. A regra é simples e conhecida por todos, mas apesar disso, a humanidade insiste em viver o hoje pensando no amanhã. A cada dia que passa as pessoas estão mais ocupadas, com mais e mais compromissos. Tudo é para ontem e nada pode esperar.

Parece que há no ar um sentimento de ansiedade coletiva, onde é preciso saber de tudo e ao mesmo tempo comunicar a todos aquilo que acontece. Alguns estudiosos dizem que o fenômeno foi promovido pela velocidade da informação. Acredito que a tecnologia seja apenas um dos fatores do comportamento da pressa.

Nas últimas semanas, o Evangelho chama atenção para uma atitude nada habitual nos dias de hoje: viver um dia de cada vez. Na primeira passagem Jesus dizia. "Não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá suas próprias preocupações! Para cada dia , bastam seus próprios problemas" (Mt 6, 33-34). A frase foi dita há dois mil anos e mesmo assim não precisa ser atualizada sequer uma vírgula. Já no segundo dia da Quaresma, Cristo lança um desafio. "Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz, cada dia, e siga-me" (Lc 9,22). 

Chamo atenção que em comum nos dois trechos está a palavra cada. O que Jesus quis nos ensinar com isso? Cada dia é diferente do outro e a cada novo pôr do sol, Deus nos desafia a sermos santos novamente. Se para cada novo dia tenho os meus próprios problemas, não vou criar novas preocupações pensando sobre o que deve ocorrer amanhã. 

Se Deus me convida a segui-Lo, o convite se renova a cada dia. Jesus, dessa forma,. quer nos alertar que não podemos nos acomodar, pensando que a conversão é um ponto de chegada enquanto que, na realidade, é um processo permanente, ou criar o hábito de fazer uma tempestade em um copo d'água, deixando os problemas esconderem a beleza da vida. É como Jesus ensinou no Pai-nosso: o pão nosso de cada dia nos dai hoje. É como diz o provérbio: um passo de cada vez.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Eu sou abençoada

Durante três semanas estive trabalhando na editoria de polícia e visitei, quase que diariamente, a Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento de Novo Hamburgo. Em cada ocorrência, um retrato da perversidade do homem. Roubos, agressões, tentativas de homicídio, latrocínios, apreensões de drogas, enfim, um verdadeiro festival de tudo o que pode existir de ruim neste mundo. No entanto, atrás desse roteiro de filme de terror, o problema quase sempre é o mesmo. Famílias destruídas, filhos sem amor e casais que perderam o respeito. Para mim, esse cenário pode ser resumido em apenas uma coisa, Deus foi jogado para escanteio.

Se Deus é tudo de bom, a ausência d'Ele significa totalmente o inverso. Em lares onde princípios cristãos estão enraizados, dificilmente alguém se perde e o mal tem vez. Em cada jovem assassinado por causa do tráfico de drogas, existe um problema familiar. Ou foi o pai que nunca esteve presente, ou a mãe que nunca impôs limites, ou ainda uma criança que cresceu com terceiros porque seus pais estavam atrás das grades.

Eu fui e sou uma pessoa abençoada. Nasci em um lar cristão onde tive o privilégio de aprender em casa de que deixar Deus fazer parte da nossa vida é fundamental. E graças a esse aprendizado, também formei um lar cristão e hoje posso ensinar ao meu filho todos os princípios que considero importante para ele se tornar uma boa pessoa.

Muito se discute sobre políticas públicas para diminuir a violência e a expansão de território dominados pelo tráfico. Mas não me lembro de ter visto algum movimento em prol do fortalecimento da maior de todas as instituições, a família. Existe programa para o jovem, para a mulher, para a criança e para o idoso. E para a família?

A igreja é ainda um dos poucos locais onde famílias se reúnem para falar sobre si, aprendem sobre o perdão e como demonstrar afeto. Quando se fazem essas coisas, se age à imagem e semelhança de Deus. Por isso, gosto muito do versículo de São Mateus: onde está o teu tesouro, ainda também está o teu coração. Por onde andam as tuas riquezas?