terça-feira, 9 de agosto de 2011

Os velocistas da Eucaristia

A pressa é um dos males que aflige a humanidade. Tempo sobrando é algo tão raro quanto encontrar uma nota de cem no meio da rua. E por incrível que pareça até o criador do tempo tem sofrido com essa praga da vida moderna. A missa, maior festa cristã, é dividida em dois momentos: celebração da palavra e a celebração eucarística. Uma hora é um tempo razoável, suportável e suficiente para participar e celebrar desse sacramento com qualidade. No entanto, 60 minutos parece para alguns uma eternidade. E a ansiedade de chegar logo ao fim aflige não somente aos leigos, mas também aos sacerdotes. 

É comum encontrar padres que se fartam com o momento da homilia. Utilizam o espaço do popular sermão para falar da festa do padroeiro, dos problemas da administração do cemitério e de como a igreja tem planejado a ampliação do ginásio de esportes. Depois de dar recados por 15 minutos, utilizam outros 5 minutos para fazer uma reflexão sobre a Palavra. 

Em seguida iniciam os ritos da celebração da Eucaristia e o momento, que era para ser belo e renovador, torna-se uma corrida contra o tempo. A oração eucarística é rezada rapidamente como se fosse um jogo de quem consegue dizer mais palavras em menos tempo. No momento da consagração, Jesus consagrado no pão mal é mostrado para o povo, mesmo ritual realizado com o cálice. E assim segue, até o momento do Cordeiro de Deus. Todo o tempo que foi gasto com aquilo que não faz parte da missa a partir de agora é compensado. E como há velocistas da Eucaristia. 

E o festival da pressa continua com os leigos que, após comungar, já correm para os fundos da igreja e, quando o sacerdote vira as costas, saem do templo sem levar a bênção do Senhor. Isso sem falar nos comentaristas que insistem em não deixar a comunidade em silêncio e puxam inúmeras orações segundos depois de comungar. Enfim, após o sermão é hora de acelerar os ponteiros e correr atrás do tempo perdido...

No início do mês lembramos o dia de São João Maria Vianey, padroeiro dos sacerdotes. Quantas vezes o Cura D'Ars pedia para que fizessem hóstias mais grossas para ele ficasse por mais tempo na presença de Jesus. E nós, escravos da pressa, nem nós damos o tempo necessário para celebrar com qualidade o sacramento que celebra o amor do Senhor pelo mundo. Tempo é uma questão de preferência, já diz a sabedoria do povo.

Fotos: reprodução

Quando é hora de ser feliz?

Não é de hoje que escuto o provérbio “a felicidade não é uma estação onde chegamos, mas o modo de viajar”. Ando de ônibus praticamente todos os dias e sei que uma viagem é diferente da outra. Algumas vou em pé, outras consigo lugar para sentar, em algumas fico me sentido como uma sardinha dentro da lata e em poucas consigo ficar confortável. Claro que a forma como irei me acomodar dentro do coletivo não depende só de mim, mas o estado de espírito com que vou encarar essa situação, sim.

O vocacionado à infelicidade pensa: “Lá vou eu, pobre e sem dinheiro pra ter um carro, andar de ônibus de novo.” “Por que essa gente não vai a pé ao invés de se amontar aqui dentro?” “Só falta essa lata velha quebrar e eu chegar atrasado de novo”.

O homem de bom humor, diverte-se: “Lá vou eu, mais uma dia para o trabalho, graças a Deus”. “Esse ônibus é igual a coração de mãe, sempre cabe mais um”. “O ônibus velho é igual panela velha, quanto mais velho, mais aguenta o tranco”.

Depois da brincadeira, a pergunta que faço é: como estamos encarando a nossa vida? Só enxergamos a mancha preta na parede branca ou conseguimos visualizar a parede branca e ignorar a mancha de sujeira? Parece ser irresistível não enxergar o defeito nosso e do outro. Soa como impossível aceitar um elogio sem arrumar desculpas para justificar nossa qualidade. Onde foi parar o bom humor e a história de que entra em um ouvido e sai no outro?

A impressão que tenho é que a sociedade é expert em criar motivos para dizer não à felicidade. Por conta disso, as coisas simples da vida, os momentos bonitos do dia a dia e até as situações que nos deixam mais contentes, não são encarados como chances de aprender a ser feliz. Não espere pelo impossível e o inesperado. É com apenas um raio de sol que o dia começa a amanhecer.

Imagem: reprodução